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marita

  • jumvasconcelos
  • 16 de jan. de 2014
  • 2 min de leitura

hoje é o dia do aniversário da minha avó. 85 anos. sempre digo que avós são entidades sagradas que habitam o mesmo plano que nós. personagem principal e excêntrico de muitas histórias que cresci ouvindo ou que tive a felicidade de presenciar. marita é relíquia. é lugarejo de um tempo que me é primitivo. os territórios de minha avó - corpo e casa – foram onde eu primeiro vi a erudição se inscrever na natureza, e a intuição se enamorar da razão. cresci ouvindo esta "Paisagem" me contar sobre tudo o que deveria ser apreendido como “belo” e “bom”. minha avó se inscreveu em mim, em minhas profundezas. assim, meu passado me acompanha em todos os espaços em que me faço presente, induzindo o futuro - portanto ele não é passado, nem presente, nem futuro; é qualquer coisa que não se encontra no Tempo que eu julgava saber, nem no Espaço matérico, e que me coloca em uma busca contínua pelo saciamento da carência do meu lugar de origem. ao longo da vida, fui encontrando pelo mundo algumas citações de suas narrativas - tagarelas de cores, formas, luzes e texturas - em imagens que a natureza do meu olhar intuitivamente me conduzia a apreender em fotografias. eram registros da natureza dessa cultura que constiuía minha humanidade, minha linguagem. hoje não estou com ela, mas onde quer que eu esteja, ela está em mim. tecelã das profundas raízes que me sustentam, encontro-a em quase tudo. como, por exemplo, neste trecho de livro escrito por um certo francês que me "deslocou" e me conduziu até ela: “Eram desses quartos de província que – da mesma forma que em certas regiões há partes inteiras do ar e do mar iluminadas ou perfumadas por miríades de protozoários que nós não vemos – nos encantam com os mil odores que neles exalam as virtudes, a prudência, os hábitos, toda uma vida secreta, invisível, superabundante e moral que a atmosfera ali mantém em suspensão; odores naturais, sim, e cor de natureza como os dos campos próximos, mas já caseiros, humanos e confinados, a fina geléia industriosa e límpida de todos os frutos do ano que deixaram o pomar pelo armário; odores provenientes das estações, mas mobiliários e domésticos, a corrigir o picante da escarcha com a doçura do pão quente, ociosos e pontuais como um relógio de aldeia, vagabundos e ordeiros, descuidosos e previdentes, roupeiros, madrugadores, devotos, felizes de uma paz que só nos traz mais ansiedade e de um prosaísmo que é um grande reservatório de poesia para aquele que os atravessa sem ali ter vivido.” (M. Proust, Em busca do tempo perdido). os que viveram, vivem ou são oriundos dos territórios de marita, entenderão bem o que quero dizer...

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